“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”. (George Orwell)
Duas notícias publicadas nos últimos dias chamaram minha atenção. A primeira foi publicada pela BBC Brasil. Intitulada “Três casos de fake news que geraram guerras e conflitos ao redor do mundo”, narra alguns casos de falsas notícias, compiladas pela jornalista ucraniana Olga Yurkova e apresentadas durante a palestra inaugural do TED 2018, série de conferências realizada em abril em Vancouver, no Canadá.
Olga é cofundadora do site StopFake, organização de comprovação de fatos em 11 idiomas. Para ela, as fake news são “uma ameaça à democracia e à sociedade”.
“As pessoas já não sabem o que é real e o que é falso. Muitas deixaram de acreditar e isso é ainda mais perigoso.”
Um dos casos relatados por Olga é sobre a história do menino crucificado na Ucrânia, uma falsa notícia produzida pelos russos e que foi decisiva para o conflito entre os dois países.
Esta notícia distribuída pela mídia russa contava o caso de Galyna Pyshnyak, apresentada como uma refugiada russa. Ela era na verdade a mulher de um militante pró-russo.
“Uma refugiada de Sloviansk se lembra de como uma criança e a mulher de um miliciano foram executadas na frente dela”, disse o canal de TV estatal Channel One Russia em 12 de julho de 2014, em meio à recém-estourada guerra de Donbass, no leste da Ucrânia, entre tropas ucranianas e forças pró-russas separatistas.
Aos prantos, a mulher aparecia contando que soldados ucranianos haviam crucificado publicamente um menino de três anos de idade diante de sua mãe, “como se ele fosse Jesus”, enquanto o garotinho gritava, sangrava e chorava.
“As pessoas desmaiavam. O menino sofreu durante uma hora e meia e depois morreu. Em seguida, foram para sua mãe”, disse ela.
Mas tudo era mentira.
A história do menino crucificado não apenas enganou a muitos na Ucrânia e na Rússia, mas também os motivou a “pegar em armas”, disse Yurkova.
Por isso, adverte ela, as notícias falsas “são uma ameaça à democracia e à sociedade”.
Outra notícia, publicada pela Gazeta do Povo revela que, para chamar a atenção para o aumento das informações falsas e de vídeos falsos que circulam pelas redes sociais, o diretor americano Jordan Peele fez um vídeo no qual o ex-presidente Barack Obama aparece fazendo uma série de afirmações falsas.
No meio do filme, porém, Peele, que ganhou o Oscar de melhor roteiro neste ano pelo filme “Corra!”, revela que as imagens foram manipuladas usando programas de efeitos especiais, e que as falas foram criadas e ditas por ele e acrescentadas às imagens de Obama.
A verdade é que cada vez mais somos bombardeados, especialmente nas redes sociais, com informações falsas e mentirosas, uma espécie de erva daninha da era digital.
Já fui vitima de uma noticia falsa, criada com o claro objetivo de me prejudicar politicamente. Mas me preocupa até que ponto as fake news poderão influenciar o resultado das eleições e como a Justiça Eleitoral agirá contra os que disseminam essas falsas noticias- “criadas a partir de personagens conhecidos, mas com suas falas inventadas, para confundir leitores, e amplificar sentimentos de rejeição ao alvo escolhido”, na precisa definição do El Pais Brasil, que vem se dedicando a estudar o fenômeno e a compartilhar a opinião de estudiosos sobre o tema.
Segundo o filósofo Pablo Ortellado, que gerencia o Monitor do debate político no meio digital, o conceito mais adequado para descrever o que está acontecendo hoje no Brasil é “uma guerra de informação travestida de jornalismo”, na qual há uma imprensa dita alternativa ultra engajada disputando o espaço com a grande imprensa, que também está engajada nessa batalha. “As fake news não são a doença, e sim o sintoma. A doença é a polarização política. E em época de eleição, com dinheiro jogado nessa polarização, a tendência é piorar. Se em 2014 já foi bem sujo, em 2018 vai ser pior”, explica em entrevista ao El Pais Brasil.
Claire Wardle, jornalista norte-americana, diretora executiva da First Draft News, um projeto da Universidade de Harvard especializado em buscar estratégias para combater as fake news diz que o Brasil reúne as características que o deixam suscetível à manipulação. “Primeiro porque é um país muito dividido, e não apenas politicamente como também em assuntos culturais e sociais. Em situação assim, as pessoas são menos críticas com a informação que encontram. Se alguma coisa reafirma suas crenças, é provável que você acredite e compartilhe. E os brasileiros, que são grandes usuários das redes sociais, adoram compartilhar. Os aplicativos de mensagens são lugares onde se distribui desinformação e, por estarem criptografados, é mais difícil que jornalistas ou verificadores de informação saibam o que vem circulando. É mais difícil desmentir as notícias falsas a tempo”, analisa.
Os especialistas são unanimes em dizer que as fake news já estão contaminando o debate político no país há algum tempo e têm colaborado para piorar a qualidade da política e das relações sociais.
Recentemente, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, afirmou que a Corte vai agir de formas preventiva e punitiva contra a disseminação de notícias falsas. “Uma propaganda que visa destruir candidatura alheia pode gerar uma configuração de abuso de poder que pode levar a uma cassação”, disse.
O ministro reforçou que o Tribunal formou comitês de inteligência de imprensa para acompanhar o processo eleitoral com foco na disseminação de notícias falsas. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Exército e Polícia Federal participam do comitê de inteligência. Fux destacou que o Ministério Público acompanha os trabalhos e que o Judiciário só atua quando é provocado.
Sinceramente, tenho minhas dúvidas sobre a eficiência dessa fiscalização. Acredito que é preciso uma legislação específica para combater a sistemática propagação de fake news com fins políticos, com multas bem pesadas para quem criar e disseminar notícias falsas.
Em tempo: nada a comemorar neste 1º de maio: Saíram os dados da PNAD contínua de março. Uma catástrofe social. O número de desocupados aumentou 12,3 milhões para 13,7 milhões. Um aumento de 1, 4 milhão de desempregados, em relação ao trimestre móvel anterior. A taxa de desemprego subiu, no mesmo período, de 11,8% para 13,7%. O número de empregados com carteira caiu 408 mil. Foi para isso que serviu a Reforma Trabalhista?
Boa Semana! Paz e Bem!