“Procure descobrir o seu caminho na vida. Ninguém é responsável por nosso destino, a não ser nós mesmos”.
Chico Xavier
Luiz Claudio Romanelli *
Todos temos que extrair uma lição daquilo que acontece com a gente. Vivi o drama da infecção pelo coronavírus, mesmo tomando todos os cuidados sanitários e de distanciamento social. Mesmo vacinado, tive sintomas moderados e senti os efeitos que a infecção provoca. Foram 19 dias de tratamento – 11 deles, hospitalizado.
Esta experiência reforçou meu entendimento de que a covid-19 realmente não é uma doença simplória. Não se trata de uma gripezinha. Não é mimimi. O número de mortes que ela provocou é retrato fiel do mal que faz. No Brasil, choramos 500 mil vítimas. No Paraná, foram 30 mil vidas perdidas.
Não é o negacionismo patrocinado pelo governo federal que resolverá o problema. Não é a imunidade de rebanho que salvará vidas. Ao contrário. O risco é que esta medonha estratégia, fortemente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, acelere o número de mortos.
“Mesmo vacinado, tive sintomas moderados e senti os efeitos que a infecção provoca. […] Esta experiência reforçou meu entendimento de que a covid-19 realmente não é uma doença simplória.”
É cada vez mais evidente que quem deveria proteger a vida dos brasileiros nunca acreditou na única forma eficaz de combater a covid e sabotou a vacinação. A compra de imunizantes só ocorreu em função da necessidade de um contraponto político, logo após o governador João Dória viabilizar a Coronavac.
A soma de erros, desmandos e incompetência nos conduziu ao desastre e não adianta esperar uma mudança de rumo. De um lado, porque não há remédio para a esquizofrenia que assola o governo da União. De outro, em razão da politização da pandemia. Trata-se de mais um caso que tentam resumir ao “nós contra eles”.
É necessário reconhecer que o governo federal deseduca e desorienta. Estimula que o vírus circule. Dali não dá para esperar mais nada. Os governos estaduais seguem correndo atrás de dar assistência médico-hospitalar ao crescente número de doentes. Mesmo com a vacinação, é um trabalho como enxugar gelo porque a medicação chega a conta gotas.
Tomemos o caso do Paraná: são quase 80 mil novos registros de infecção entre 18 e 24 de junho, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde. A taxa de transmissão (RT) bateu em 1,43. É a maior do País, conforme o portal Loft.
“O agravamento do quadro fez o governo estadual anunciar uma nova metodologia de distribuição de vacinas. […] mesmo com a vacinação, a taxa de transmissão continua acelerada.”
O agravamento do quadro fez o governo estadual anunciar uma nova metodologia de distribuição de vacinas. A intenção é imunizar 80% dos adultos até agosto e equilibrar a vacinação por faixa etária, superando as diferenças entre municípios.
O que observamos, contudo, é que, mesmo com a vacinação, a taxa de transmissão continua acelerada. Os imunizantes em uso no Brasil, apesar de boa eficácia, não conseguem frear a proliferação do vírus, que continua circulando muito forte, infectando cada vez mais pessoas, matando muita gente e pressionando o sistema de saúde.
Em razão da situação atual, avalio que os municípios precisam assumir um protagonismo maior no enfrentamento da pandemia. As pessoas vivem nas cidades e é ali que deve haver o fortalecimento das ações. Cabe aos gestores locais buscar o apoio necessário para proteger as suas populações.
Os municípios conseguem monitorar os moradores, podem promover o isolamento de infectados, incentivar medidas sanitárias, o uso de máscara e adotar o isolamento social, se necessário, além de ter condições de realizar testagem em massa. Tudo isso ajudaria a diminuir os índices de contaminação.
“O Paraná pode, de forma pioneira, estabelecer metas de redução da transmissão se atuarmos em conjunto. […] Cada município tem que passar a ter controle absoluto do seu território em relação à doença.”
O Paraná pode, de forma pioneira, estabelecer metas de redução da transmissão se atuarmos em conjunto. É possível criar um ranking, com base em indicadores de eficácia, que classifique os bons resultados e exemplos locais e que inspire todas as cidades a adotar as boas práticas de prevenção.
O fato concreto é que precisamos rever as formas de combater a pandemia até que a vacina alcance a totalidade da sociedade. Cada município tem que passar a ter controle absoluto do seu território em relação à doença. Isso só pode ser feito por quem está lá.
Minha experiência com a covid também foi um tempo de reflexão. Se a estratégia atual não mudar, seguiremos somando doentes. Não dá mais para ficar assistindo como passageiros que outras pessoas continuem embarcando para a morte.
* O autor é advogado, especialista em Gestão Urbana,
deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná