A democracia em xeque

Luiz Claudio Romanelli*

Há quem compare a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA no dia 9/11 a um novo 11/9, pelos efeitos devastadores que sua ascensão ao poder pode produzir.

É uma visão catastrofista, mas admito que o momento não é para muito otimismo. Na campanha, Trump revelou-se xenófobo, racista, preconceituoso, intolerante e narcisista.

Declarou que pretende construir um muro na fronteira com o México, deportar milhões de imigrantes ilegais e barrar totalmente a entrada de imigrantes muçulmanos nos Estados Unidos.

Trump defendeu mais protecionismo econômico e pretende renegociar os acordos comerciais firmados pelos EUA para preservar empregos no país. Com base no que disse na campanha, Trump deve dar uma guinada nas políticas de mudança climática, rever a politica nuclear e as relações com a OTAN. Foi extremamente agressivo e desrespeitoso quando se referiu a mulheres, minorias e imigrantes. Prometeu acabar com o Obamacare, programa que dá acesso ao seguro de saúde a pessoas que não
podem pagar um plano privado.

É muito cedo para prever quais promessas eram apenas retórica da campanha e quais pontos continuarão sendo defendidos mas o site da transição de Trump (greatagain.gov) revela que muitos dos absurdos ditos são mesmo propostas de governo.

A construção de um muro na fronteira sul dos Estados Unidos é o primeiro de dez pontos sobre imigração listados pela equipe de transição de Donald Trump. Outros pontos são a suspensão da emissão de vistos para “lugares onde a triagem adequada não possa ser realizada”, tolerância zero para criminosos estrangeiros e a reforma da legislação sobre imigração “para servir os melhores interesses dos Estados Unidos e seus trabalhadores”.

Ou seja, ninguém deve se enganar imaginando que Trump vai deixar de ser Trump. Ele fará o que prometeu – o que significa um retrocesso político, econômico e social enorme em relação às politicas implementadas por Barack Obama.

Alias, é do presidente Obama a melhor análise sobre o presidente eleito. Trump não tem compreensão das responsabilidades nem das complexidades do cargo que vai ocupar.

O Brasil e a América Latina ficaram à margem da campanha eleitoral norte-americana e há opiniões para todos os gostos sobre como serão as relações Brasil- EUA.

Há quem ache que serão piores do que seriam se Hillary Clinton tivesse sido eleita, outros acreditam que nada muda e há os que defendam que serão melhores. Mas os analistas concordam em um ponto: Trump é imprevisível. Mais que isso, ele representa a ascensão da extrema-direita radical, ultranacionalista, xenófoba e racista, na maior democracia do mundo, pátria da liberdade.

Não tenho duvidas que o futuro é incerto e preocupante, pois em época de estado islâmico, diáspora do povo sírio, migrações em massa do norte da África, brexit e não ao acordo de paz com as Farcs na Colômbia, cada vez mais o mundo globalizado vai ficando pra trás.

Paz e Bem! e uma ótima semana a todas e todos.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.