“É a economia, estúpido!” – James Carville
(*) Luiz Claudio Romanelli
Se você é do tipo que acha bonito fazer arminha com as mãos, que discutir o fim da tomada de três pinos e da multa para quem não usa a cadeirinha para as crianças é importante para o Brasil, não perca o seu tempo lendo esse artigo.
O governo federal não tem uma agenda. Como não tem agenda, precisa adotar uma atitude diversionista. Não tem agenda para enfrentar o problema estrutural do país que é o desemprego e a recessão.
Estranho o governo Bolsonaro, mal assumiu o ministério da Economia, Paulo Guedes anunciou que para ele o Mercosul e a Argentina não tinham a menor importância.
Passados seis meses, o presidente brasileiro fez uma visita de chefe de estado ao presidente Macri, de onde retornou defendendo a criação do peso-real e foi a reunião do G 20 no Japão em busca do acordo comercial do Mercosul com o União Europeia, que em Bruxelas realizava mais uma rodada de conversas. Após 20 anos de negociações, venceu a ala pragmática do governo e finalmente um acordo histórico foi firmado. Nos próximos meses conheceremos os termos, e para que tenha efetividade ainda será necessário cumprir um longo ritual.
Por outro lado o Brasil fechou o trimestre de março a maio deste ano com 13 milhões de desempregados, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, divulgados na sexta-feira (28).
A população subutilizada (28,5 milhões de pessoas) é recorde da série iniciada em 2012. Em relação ao trimestre anterior houve alta de 2,7% (mais 744 mil pessoas). Já em relação ao mesmo trimestre de 2018 o aumento foi de 3,9% (mais 1,066 milhão de pessoas).
Isso significa que um a cada quatro brasileiros em condições de trabalhar está desempregado, trabalhando menos horas do que gostaria ou simplesmente desistiu de procurar emprego.
O número de trabalhadores por conta própria chegou a 24 milhões de pessoas, outro recorde da série histórica, com crescimento de 5,1% (mais 1 milhão e 170 mil pessoas) em relação ao mesmo período de 2018.
A informalidade é a quinta maior da série histórica. O número de trabalhadores sem carteira assinada no país somou 11,4 milhões de pessoas, o equivalente a, aproximadamente, 18% de toda a população ocupada no país em maio.
O Brasil abriu 32.140 vagas de emprego com carteira assinada no mês passado. É o pior resultado para o mês de maio desde 2016, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados-Caged.
Não precisa ser economista ou especialista em finanças para verificar que o país vai mal, está estagnado.
Jair Bolsonaro tem revelado nos seis meses em que ocupa a presidência um despreparo para a função. Estamos vivendo de pequenos factoides, Bolsonaro se ocupa de temas como o fim do horário de verão e da tomada de três pinos, da desativação de radares, mais pontos para suspensão da CNH, fim da cadeirinha para bebês nos carros e outros assuntos insignificantes diante da magnitude dos desafios do país.
Isso quando não comete grandiosos equívocos como a liberação de agrotóxicos, a ampliação do desmatamento, ou orienta a diplomacia brasileira a vetar nas resoluções e textos da ONU qualquer uso da palavra “gênero” para espanto da comunidade internacional.
Como afirmou o colunista José Casado, do Globo: “Bolsonaro se entretém na caça a fantasmas do sepultado comunismo, estimulando sectarismo e manifestações de apoio ao governo. Em seis meses, da sua caneta saiu apenas uma iniciativa para imediata criação de empregos – na produção de armas”, escreveu.
O país está em compasso de espera, enquanto o presidente desfia bobagens e desaforos mundo afora. Dia sim e outro também o presidente brasileiro causa espanto e é infelizmente motivo de chacota.
O presidente é diretamente responsável pela estagnação do país. O governo federal está sem uma agenda que possa estimular o crescimento econômico. O desenvolvimento do país passa pelo aumento do emprego, pela retomada do desenvolvimento industrial e por políticas públicas consistentes nos setores de infraestrutura e habitação.
O que se vê, no entanto, é a falta de um plano de governo e de ação. Apenas um exemplo: o governo simplesmente desmontou o programa Minha Casa Minha Vida, que em uma década de existência aprovou a construção de 5,5 milhões de imóveis, com repasses que chegaram a R$ 431 bilhões.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o país tem 4.669 obras paradas, como postos de saúde, creches, escolas, redes de saneamento e estradas, entre outras. Se fossem retomadas, seriam criados 1 milhão de empregos ou mais no setor de construção, se consideradas outras obras como a manutenção de rodovias e revitalização de centros urbanos.
A CBIC aponta ainda casos de obras que são tocadas entre o governo federal e as prefeituras que, por alguma razão, não começaram. E estima entre R$ 2 bilhões e R$ 8 bilhões em recursos do PAC depositados em contas de prefeituras e sem uso por causa de dificuldades burocráticas e jurídicas.
A recuperação da construção civil gera empregos de forma rápida, eficaz, impactando de forma positiva o grave problema do desemprego e subemprego que afeta 27 milhões de trabalhadores no país.
Bolsonaro sempre fez questão de frisar que não entende de economia. Delegou a um economista liberal, Paulo Guedes, a tarefa de tirar o país da recessão e de gerar empregos. Até agora, ele não mostrou um plano sequer para tirar o Brasil do buraco.
Será que não está na hora do presidente Bolsonaro trocar o gerente do posto Ipiranga, aparentemente o maestro de uma música só?
O mercado já percebeu que apoiou um embuste. O povo já começa a perceber. Sem querer torcer contra é bom que o presidente comece a governar.
Em tempo: Pesquisa divulgada na sexta-feira, 28, pelo instituto Paraná Pesquisas comprova que a popularidade de Bolsonaro despencou. 51% da população brasileira desaprova o governo, enquanto 43,7% disseram aprovar; 40,8% consideram ruim ou péssima a administração de Bolsonaro, 30,1% classificam como ótima ou boa e 2,2% não opinaram.
(*) Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB