O projeto de reforma da Previdência mudou de nome: agora o governo se refere a ele como a Nova Previdência, repetindo um velho truque de marketing político em que se alteram os nomes das coisas para que elas ganhem uma roupagem nova, mas fiquem exatamente como estão.
Há, de fato, que se rever a previdência, mas sem violar direitos e, especialmente, sem fragilizar ainda mais a situação das pessoas socialmente vulneráveis – idosos, deficientes, trabalhadores rurais e os assalariados que começam a trabalhar aos 14, 15 anos de idade e não têm as mesmas condições de competir com aqueles que só vão saber o que é dar duro no expediente depois de se graduar em uma universidade, aos 23, 24 anos.
O ponto central é que a solução para dar um fim ao longo período de estagnação sofrido pelo País não é a Nova Previdência – uma panaceia martelada mil vezes na cabeça dos brasileiros até que eles acreditem que ela tem os poderes miraculosos de curar nossos males.
A questão é mais profunda e muito mais abrangente: o que o Brasil precisa é de uma Política Econômica.
Já é hora de o ministro da Economia, Paulo Guedes – o economista de uma nota só –, mostrar a que veio e delinear um programa nacional de desenvolvimento, que não foi feito na campanha de Jair Bolsonaro e muito menos depois que o presidente assumiu o cargo.
É tarefa do ministro – e também do presidente – rearticular o setor produtivo, redefinir estratégias de fortalecimento da indústria de transformação, dinamizar o segmento de comércio e serviços, retomar a indústria da construção civil (liberando imediatamente recursos para os programas de habitação popular) e estabelecer um amplo projeto de modernização da infraestrutura de transporte e logística do País, no qual o papel das concessões é importante, mas não pode ser o único.
É dever do ministro intensificar o diálogo com os empresários e os sindicatos, reorganizar as exportações brasileiras (também estagnadas) e, especificamente, procurar a direção da Ford para saber o que é possível fazer a fim de que a montadora norte-americana – pioneira no País, onde está presente há um século – reveja sua decisão de fechar fábricas em território nacional.
É sua missão agir como interlocutor dos governadores e esclarecer o que eles devem esperar da União no que se refere à Lei Kandir e à reposição de perdas dos estados.
Numa palavra: o governo precisa fixar uma política econômica que dê um novo norte, restabeleça a confiança do investidor e propicie a volta da geração de emprego e renda.
No entanto, ao invés de definir esta política, de arregaçar as mangas e finalmente mostrar a que veio, o governo Bolsonaro se afunda num mar de intrigas disparadas nas redes sociais. Um redemoinho de fofocas no qual o fuxiqueiro-mor é o filho-vereador do presidente.
Destampatório no qual, mais grave que os insistentes ataques ao vice-presidente Hamilton Mourão feitos pelo filho-vereador, só a atitude do presidente, que nada faz para conter as cotoveladas sofridas por seu vice.
A esta altura, é óbvio para todos que o garoto mimado não só tem o apoio presidencial, como é usado pelo pai para fustigar o general Mourão, uma das raras vozes racionais neste governo – o que lança uma sombra de dúvidas perturbadoras sobre o que devemos esperar de Brasília.
A irracionalidade, a incompetência e a vulgaridade se reproduzem na base de apoio do governo no Congresso. Falar aqui de base é força de expressão, pois é difícil vislumbrar que o governo tenha uma bancada coesa a lhe dar sustentação na Câmara dos Deputados e no Senado.
O comportamento errático, incoerente e às vezes patético dos líderes dos partidos situacionistas reflete a inaptidão do presidente e de seu círculo mais próximo.
Passados os 100 dias de governo, o País espera, quase em suspenso, que Bolsonaro e Paulo Guedes mostrem serviço. Do contrário, não teremos a Nova Previdência, mas um nova crise política.
(*) Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB do Paraná.