Todo dia recebemos notícias de corruptos sem escrúpulos, de violências e da violação direitos, de maneira generalizada.
“Quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo” frase atribuída ao Papa Francisco
Poderíamos passar a acreditar que no país não existem pessoas boas e honradas. Mas elas existem, e são a imensa maioria. São elas que mantêm o país em pé, que o fazem funcionar. Graças a elas, conseguimos viver e até manter um fio de esperança.
Em 2015, publiquei neste mesmo espaço, um artigo intitulado “A Banalização do Mal” no qual revelei um pouco da minha perplexidade pelo fato da nossa sociedade estar anestesiada pela violência, a ponto de perder a capacidade de se chocar com a onda de crimes contra a vida.
Naquela ocasião, eu disse que a violência virou algo trivial, corriqueiro, banal e que isso só podia ser compreendido pela banalização do mal que se instala no vácuo do pensamento, trivializando a violência.
E alertei: vivemos tempos em que se consagra a intolerância. Há um vácuo de pensamento. E há o silêncio dos bons. E é neste caldo de paranoia social que cresce e prospera a semente do totalitarismo.
De lá para cá, a violência só piorou e a intolerância entre as pessoas só cresceu. O que pensa diferente, o que não defende as mesmas ideias, o que milita em partido diverso do meu, é inimigo- esse é o comportamento prevalente, especialmente nas redes sociais e que revela o vazio de reflexão que resulta na banalidade do mal.
A repercussão sobre o triste episodio do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, na noite de quarta-feira (14) é um exemplo de como as pessoas vivem num estado de anomia (estado social de ausência de regras e normas, onde os indivíduos desconsideram o controle social que rege determinada sociedade).
Marielle lutava por justiça e igualdade. Sua morte não foi aleatória- foi uma execução planejada. Foi assassinada, muito possivelmente por sua atuação política, o que deveria indignar todos os brasileiros, independente de sua preferencia partidária.
Porém, o que se viu foi o acirramento dos discursos de ódio. Sinceramente, fiquei chocado ao ler posts de gente que se considera “de bem” afirmando que ela teve o que mereceu e outros, questionando e condenando a repercussão e a mobilização popular em protesto pelo assassinato.
Sigmund Freud, pai da psicanálise, já tinha dito que o impulso da vida supera o da morte, que é como dizer que o bem acaba vencendo o mal. Do contrário, dizia Freud, o mundo já não existiria.
Tempos de trevas. Tempos de barbárie em que na falta de argumentos passa a prevalecer a violência, verbal ou física e se legitima até a morte do “adversário”.
Absolutamente impecável e certeira a analise da jornalista Tereza Cruvinel, colunista do Jornal do Brasil: “Há dois aspectos subjacentes na execução de Marielle Franco. Primeiro, a torrente de ódio, com laivos fascistas, que vem tomando conta do Brasil. No limite, o outro, que me incomoda, é inimigo. Deve ser combatido com fúria, talvez com a morte. Seja na política ou nos conflitos pessoais. Se isso não for contido, as coisas ainda vão piorar muito. E há também, na eliminação de Marielle, a bronca com os que, vindo de baixo, tornaram-se atores importantes na cena pública, ganhando voz e emprestando-a aos que representam, como fazia ela em relação aos favelados, negros e mulheres. Seus assassinos, bons de pontaria, foram primários na avaliação das consequências”, escreveu.
Igualmente importante a reflexão do advogado curitibano e especialista em segurança Marcelo Jugend, no facebook, em que diz que “toda morte violenta é terrível. Nenhuma é mais do que a outra. Todas devem poder ser evitadas. E todos os autores, punidos no rigor da lei. Mas a morte de alguém por ódio, a fim de conscientemente perpetuar um estado de violência e injustiça é algo muito diferente de um homicídio comum, que busca proveito patrimonial. Só que tem gente desprovida de repertório pra entender isso”.
O Brasil já viveu esse “nos contra eles”, com consequências nefastas. Ou alguém já esqueceu o que foi a campanha presidencial Collor versus Lula, em 1989. Collor elegeu-se como um salvador da pátria e deu no que deu.
As semelhanças com a atual situação politica do país e esse clima de conflito entre esquerda e direita são um péssimo prenuncio. O Brasil não pode ser reduzido a uma guerra entre bolsonaristas e psolistas ou petistas.
A prosperar esse estado de coisas, estamos concordando passivamente em gestar o ovo da serpente. A hora, portanto, é de reafirmarmos a crença na liberdade, na igualdade, nos valores democráticos e no estado de Direito. E de combatermos com firmeza a violência e a opressão.
Boa Semana! Paz e Bem!