O Brasil em liquidação e a crise política que não acaba

Luiz Claudio Romanelli*

“Para uma reforma política genuína no Brasil só tem uma solução: constituinte exclusiva, proibindo a participação dos atuais parlamentares, e detentores de qualquer cargo ou função pública” Luigi Bellodi

O governo federal revelou na terça-feira da semana passada (22), a intenção de privatizar a Eletrobrás. Um dia depois, anunciou também um pacote de privatizações com 57 empresas e projetos. Na lista, 14 aeroportos, 15 terminais portuários,duas rodovias e 11 lotes de linhas de transmissão de energia. No pacote, a Casa da Moeda, os aeroportos de Maceió, Aracaju, João Pessoa, Campina Grande, Juazeiro do Norte, Recife, Cuiabá, Sinop, Alta Floresta, Barra do Garças e Rondonópolis e terminais portuários de Belém, Vila do Conde, Paranaguá e Vitória.

Na quinta (24), novo espanto com a edição do decreto 9.142, extinguindo a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), uma área de 47 mil km², localizada entre o Pará e o Amapá, agora liberada à predação mineral.

Segundo o ministro da secretaria-geral da Presidência, Moreira Franco, o objetivo das privatizações é “enfrentar a questão do emprego e da renda.” Já o ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi mais honesto e disse que as privatizações ajudarão no cumprimento da meta fiscal do país, que acumula um rombo de R$ 159 bilhões.

Temer e sua equipe perderam qualquer resquício de compostura. Simplesmente colocaram o país em liquidação. Um verdadeiro crime de lesa pátria, um atentado a soberania nacional que não tem precedentes na historia do nosso país — as privatizações de FHC são fichinha perto do que se vê agora — com o complacente silencio dos empresários e das elites econômicas.

Esse desgoverno quer arrendar às pressas, áreas onde deverão ser construídos novos armazéns privados para interligação no cais publico em Paranaguá.

O Porto de Paranaguá que bate recorde de movimentação de cargas e recebeu, desde 2011, o maior pacote de investimentos da sua história, num total de R$ 624 milhões. Investimentos em obras que deram mais agilidade e aumentaram a produtividade do porto. No primeiro semestre de 2017, por exemplo, foi registrada a maior movimentação da história do Porto em um período de seis meses: 25 milhões de toneladas operadas. Não precisamos das privatizações do Temer, aqui não!

Quem matou a charada sobre os reais motivos da espantosa e improvisada ação de Temer foi à jornalista Tereza Cruvinel. Segundo ela, “há uma explicação, que não é ideológica, para a fúria privatizante: se Temer não encontrar um jeito de fazer caixa, ele (e também Meirelles) podem incorrer em crime fiscal-orçamentário, um dos delitos administrativos que remetem ao crime de responsabilidade, podendo justificar impeachment”.

Ela aponta que “será uma deliciosa ironia se os algozes de Dilma por pedaladas fiscais forem incursos em crime de responsabilidade por atentado muito mais grave à Constituição, à lei orçamentária e à Lei de Responsabilidade Fiscal. E onde andam os guardiões do artigo 85, que vincula tais crimes ao impeachment? Sumiram juntamente com os paneleiros!”, analisa a jornalista.

O atual governo não tem compromisso com o povo brasileiro. O Brasil precisa de um governo que promova estabilidade e desenvolvimento. Não adianta termos propostas extremadas, seja a esquerda, ou à direita.

Como dizia o velho e bom Aristóteles, “a virtude está no meio”. E nós temos que, no Brasil, perseguir um tipo de política que promova o diálogo e que, ao mesmo tempo, liberte o país dos juros dos banqueiros, dos juros altos, que promova uma política de desenvolvimento econômico, que permita que o país retome o crescimento econômico.

E mais ainda, que possamos ter uma política industrial sólida, consistente, que nós possamos avançar muito no processo de industrialização e uma política de exportação bem estruturada, não só do velho binômio minerais e commodities. Que o país possa, de fato, desenvolver a sua indústria a partir de suas riquezas e que nós possamos diminuir a especulação.

Dias desses, reli uma entrevista do ex-governador José Richa ao jornalista José Wille, em que ele relembra toda a sua trajetória politica e diz que o Brasil vai mudar na hora em que houver uma mudança profunda na política, na estrutura política do Brasil”. A entrevista é de 1998, e ele defendia o voto distrital, fidelidade partidária e a reestruturação dos partidos. “Quando houver isto, o resto vem!”, disse o velho Richa.

Pois por covardia e a velha malandragem dos caciques partidários, o Congresso brasileiro perde a chance de fazer a reforma politica. Tudo nos leva a crer que será mantido o que ai está. O que podem aprovar na Câmara é uma perfumaria. De um lado, proíbem coligações e por outro permitem fazer federações de partidos para fazer coligação. Ou seja, continua tudo como está.

Os velhos caciques da politica como Roberto Jeferson, Valdemar Costa Neto, Romero Jucá e outros presidentes de partidos nunca vão querer abrir mão do poder que exercem sob as siglas partidárias. Para eles, vale a máxima “é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique como está”, a frase mais conhecida do livro “O Leopardo” de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

Mas precisamos mais do que uma reforma do sistema politico e do sistema eleitoral. Precisamos de uma reforma cultural para que o povo brasileiro readquira valores que se perderam ao longo do tempo. E necessária, de fato, uma mudança e uma conscientização mais forte em relação ao comportamento do cidadão como eleitor.

Muitos aderiram a Lei de Gerson, aquela de que é preciso levar vantagem em tudo. As distorções começam cada vez mais cedo. Discutindo esse tema, semana passada uma diretora de escola me deu um bom exemplo da necessidade dessas mudanças: muitas crianças, ainda na sua fase de pré-adolescência, estimulados pelas suas professoras, disputam a representação da turma na sala de aula.

Interessante é que de casa sai o mau exemplo, porque os pais, para que os filhos ganhem a eleição, normalmente recomendam alguma medida de cooptação. Simples, por exemplo, um chocolatinho para cada um, com o nome da criança. Ou seja, o mau exemplo começa em casa e na escola. Esta é uma revolução necessária que temos que fazer, conscientizar que política não é vale tudo.

Com a situação atual parece que podemos piorar, mas a crise é a oportunidade para a mudança. Nós vamos encontrar um outro caminho.

Boa Semana! Paz e Bem!

*Luiz Claudio Romanelli, deputado estadual pelo PSDB, é líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná.