O Brasil também é medalha de ouro em desemprego, diz líder do governo

romanelli_desemprego_olimpiadaBrasil na UTI

Luiz Claudio Romanelli*

“Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come”. – JOSUÉ DE CASTRO

Passada a apoteose da brasilidade, com a demonstração dada ao mundo da competência da engenharia nacional e da fantástica festa que foram as olimpíadas, nasce uma esperança que conseguiremos superar esta crise, e dela, sairmos mais fortes, por isso vamos ao problema que tem que ser enfrentado, o desemprego.

Na semana passada, o IBGE detalhou os dados do desemprego no segundo trimestre, no recorte regional da Pesquisa Nacional por Amostras por Domicílio Contínua – Trimestral (Pnad Contínua Trimestral).

As informações revelam que o desemprego avançou em todas as regiões do país. A taxa de desocupação subiu em todas as grandes regiões no 2º trimestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015: Norte (de 8,5% para 11,2%), Nordeste (de 10,3% para 13,2%), Sudeste (de 8,3% para 11,7%), Sul (de 5,5% para 8,0%) e Centro-Oeste (de 7,4% para 9,7%).

Entre os Estados, as maiores taxas de desemprego no segundo trimestre de 2016 foram observadas no Amapá (15,8%); Bahia (15,4%) e Pernambuco (14%), enquanto as menores taxas ocorreram em Santa Catarina (6,7%), Mato Grosso do Sul (7%) e Rondônia (7,8%). No Paraná, a taxa de desocupação no segundo trimestre de 2016 foi de 8,2%, puxada pelo desempenho de Curitiba. No mesmo período do ano passado, era de 6,2%. Em Curitiba, a taxa de desocupação ficou em 10,2%. No mesmo período de 2015, o desemprego atingia 5,6% da população economicamente ativa.

A taxa geral de desemprego, de 11,3% no trimestre encerrado em junho, é a maior da série histórica e revela uma população desocupada de 11,6 milhões de pessoas, um crescimento de 4,5% (ou 497 mil pessoas) em relação aos primeiros três meses do ano. No comparativo com o segundo trimestre do ano passado, o aumento da população desocupada chega a 38,7% ( ou 3,2 milhões de pessoas).

A população empregada (90,8 milhões de pessoas) manteve-se estável em relação a março de 2016. Já em relação a junho de 2015, houve um recuo de 1,5%, ou seja, menos 1,4 milhão de pessoas. Na população desempregada, o percentual de mulheres é superior ao de homens. No 2º trimestre de 2016, elas representavam 50,9% dos desocupados no Brasil. Os adultos de 25 a 39 anos de idade (35,0%) representavam a maior parcela entre os desocupados, seguida pelos jovens de 18 a 24 anos (32,5%).

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho mostram que apenas em junho de 2016, foram eliminados 91.032 empregos no país. No acumulado do ano, os dados mostram um decréscimo de 531.765 empregos. Nos últimos 12 meses verificou-se redução de 1.765.024 postos de trabalho. Os setores que registraram as maiores perdas de emprego foram: Serviços (-42.678 ou -0,25%), Indústria de Transformação (-31.102 postos ou -0,41%), Construção Civil (-28.149 postos ou -1,09%) e Comércio (-26.787 ou -0,30%).

No Paraná, em junho deste ano foram eliminados 7.130 empregos, equivalente ao decréscimo de 0,36% em relação ao estoque de assalariados com carteira assinada do mês anterior. Os setores de atividade que mais contribuíram para este resultado foram a Indústria de Transformação (-2.816 postos), os Serviços (-1.738 postos), o Comércio (-1.533 postos) e a Construção Civil (-1.473 postos). A Região Metropolitana de Curitiba registrou redução de 3.303 empregos formais em relação a maio. No primeiro semestre deste ano, houve decréscimo de 16.763 postos (-0,63%). Nos últimos 12 meses, houve queda de 3,95% no nível de emprego ou -108.390 postos de trabalho no Estado.

Fiz questão de detalhar os números para que todos tenham a dimensão do desemprego no país. O desemprego que já estava alto no primeiro trimestre, piorou ainda mais no segundo. E parece não haver motivo para otimismo nos meses que restam até o fim do ano. Vivemos num circulo vicioso de estagnação econômica e desemprego. Com a economia fraca, cresce o desemprego e a inadimplência e as vendas de produtos e serviços recuam e a arrecadação diminui.

A economia continua em queda livre. É certo que o governo federal vai ter que aumentar tributos, especialmente a Cide- Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, que incide sobre os combustíveis. Também é certo que vêm aí as privatizações e as reformas trabalhista e previdenciária. O governo tem um enorme déficit fiscal e não tem como ampliar investimentos e realizar obras- que gerariam empregos.

Consumado o impeachment de Dilma, Michel Temer terá que começar a mostrar a que veio- até aqui o Congresso está votando projetos propostos pela presidente afastada. Nas matérias mais polêmicas, como o projeto de renegociação das dívidas dos Estados, o governo teve que retroceder em alguns pontos, sob o risco de perder na votação em plenário. A grande dúvida é se Temer terá pulso para que mudanças necessárias mas impopulares sejam aprovadas na Câmara dos Deputados e no Senado. A julgar pelo que vimos nestes cem dias, não.

É indispensável que a equipe econômica reveja as desonerações, que somente este ano evitaram um recolhimento de R$ 52 bilhões. A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 107,41 bilhões em julho, o que representa uma queda real (descontada a inflação) de 5,8%, em relação a julho de 2015.

Foi o pior mês de julho desde 2010, segundo números da Secretaria da Receita Federal divulgados na sexta-feira (19).

O remédio para tirar o país da UTI será, necessariamente, amargo. Veremos se Temer terá a coragem e firmeza necessárias para cortar benefícios e privilégios, dos poderosos.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.