Direita volver
Luiz Claudio Romanelli*
‘No pasarán’ – lema dos revolucionários da guerra civil espanhola contra o avanço do exército do general Franco
O saudoso e sábio Anibal Khury já dizia: em política até elefante pode voar. Porque na política, mesmo o que parece impossível ou improvável, pode acontecer. Pois na madrugada da última quinta-feira (14), um elefante alçou asas em Brasília e não era o Dumbo do filme de Walt Disney. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito com 285 votos como novo presidente do legislativo federal. Maia venceu no segundo turno o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que teve 170 votos. Apenas cinco deputados votaram em branco.
Depois de anos de decadência, eis que o DEM ressurge e assume o comando da Câmara dos Deputados. Com 27 deputados, o Democratas, ex-PFL, soube costurar alianças e derrotou o candidato preferido do
Centrão, com o inusitado apoio de partidos como o PCdoB e de parcela do PT.
De tudo o que li sobre a eleição na Câmara dos Deputados, ressalto a análise de Breno Altman para quem a vitória de Maia representa “a liquefação do campo antigolpista, abrindo caminho para a substituição do centro fisiológico pela direita orgânica no comando do parlamento”.
Para o jornalista, “a vitória de Rodrigo Maia sela uma nova etapa na reorganização das forças conservadoras: com a recondução da direita neoliberal ao núcleo de poder, a agenda do retrocesso tende a ganhar mais credibilidade, vigor e unidade”.
Rodrigo é filho do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, representa uma direita mais ideológica e em breve colocará na pauta as reformas liberais propostas pelo presidente interino Michel Temer, entre elas
as reformas da Previdência e a Trabalhista.
Também vai dar agilidade a outros projetos, como o 4567/16, do Senado Federal, de autoria de José Serra (PSDB-SP), que retira a obrigatoriedade de atuação da Petrobras como operadora única de todos
os blocos contratados pelo regime de partilha de produção em áreas do pré-sal. Na semana passada, foi aprovado o regime de urgência para a tramitação da proposta.
É certo que também deve acelerar votações como a desvinculação de receitas da União, que representa o fim das despesas obrigatórias para saúde e educação e a revisão do reajuste do salário-mínimo, entre
outras pautas-bomba.
O presidente interino afirmou que não iria interferir na eleição para a presidência da Câmara. Mas houve uma ação nítida do Planalto para implodir a candidatura do peemedebista Marcelo Castro, ex-ministro de Dilma e contrário ao impeachment. A eleição de Maia agradou muito a Michel Temer, que livrou-se de ter Rogério Rosso (PSD-DF), candidato do centrão e ligado ao ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na presidência da Câmara. Agradou também a Aécio Neves e ao PSDB, principais fiadores e articuladores da eleição de Maia. Não foi à toa que a primeira visita do novo presidente da Câmara foi ao senador mineiro.
Já alertei em artigos anteriores para o fato de o governo Temer ter dado uma grande guinada à direita, com propostas e ações que representam um grave retrocesso em políticas públicas inclusivas,
duramente conquistadas pela sociedade depois da promulgação da Constituição de 88. A cada dia fica mais evidente o desmanche de programas de proteção social, a tentativa de criminalização dos
movimentos sociais, as manifestações contra direitos dos trabalhadores, vindos dos setores mais conservadores, com respaldo do governo interino.
O próprio Temer já declarou que tomará “medidas impopulares”. Obviamente, aguarda o impeachment da presidente Dilma para pôr em prática seu programa, que afetará todos os que mais necessitam do Estado.
A votação na Câmara só confirma que Temer está alinhado aos setores mais atrasados da sociedade brasileira.
Como definiu Renato Rovai, editor da Revista Fórum: “o momento não é duro. É duríssimo. Quando há quem se reivindique progressista comemorando a vitória do Demo sobre o Coisa Ruim é porque o fundo do
poço já ficou pra trás faz tempo. Esse é o momento atual”.
Em tempo: o Ministério Público Federal determinou o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da União, referente às chamadas “pedaladas fiscais”, diante da inexistência de crime. Os grandes jornalões e a mídia ignoraram solenemente o fato.
Há uma pergunta que não quer calar: como condenar a presidente Dilma por “crime de responsabilidade”, se o próprio MPF, titular da ação penal, garante que não houve crime?
Pax ex Benne! Uma ótima semana a todas e todos.
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas no Blog do Esmael.