Seis anos da lei antifumo no Paraná

Luiz Claudio Romanelli*

“A sociedade avança quando cria leis que protegem à saúde. Os deputados estão de parabéns pela coragem e consciência cidadã. O Brasil pode ver no Paraná mais um exemplo.” (Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, sobre a aprovação da lei antifumo no Paraná).

No dia 29 de setembro, comemoramos os seis anos de implantação da lei antifumo no Paraná, projeto do qual fui um dos autores e que trouxe avanços significativos na relação da sociedade paranaense com o tabagismo. Na Assembleia e com todos os setores da sociedade, fizemos uma discussão muito ampla no convencimento que a lei era muito importante no enfrentamento aos malefícios do fumo. Com orgulho, contamos até com apoio da presidente da Pastoral da Criança, doutora Zilda Arns, que na época visitou pessoalmente cada deputado para reafirmar a importância da aprovação da lei pelo legislativo paranaense.

Quem, hoje, imagina fumar em um restaurante, cinema ou teatro? Em sã consciência, ninguém, e não por medo da multa, mas porque a lei apenas traduziu um sentimento que já permeava a sociedade, contribuiu para mudança de hábitos e para desglamurizar o ato de fumar, confirmou a consciência coletiva sobre o quão pernicioso é invadir o espaço do outro, enchendo de fumaça o ambiente de uso comum, o bar ou o restaurante.

A lei proibiu o consumo de cigarros em ambientes públicos fechados, acabou com os fumódromos e, como consequência direta, trouxe mais qualidade de vida para milhões de paranaenses.  Fumar faz mal à saúde. O ambiente sem cigarro valoriza a vida.

Dados da Organização Mundial de Saúde, divulgados em 2014, apontam que o cigarro ainda causa cincos milhões de mortes no mundo por ano. O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, no Brasil ocorrem 200 mil mortes por ano (23 pessoas por hora)  por doenças relacionadas ao tabagismo.

Mas há também boas notícias. Segundo estudos do Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco, a prevalência do hábito de fumar vem caindo no Brasil. Em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. No ano de 2008, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo, esse percentual caiu para 18,5 %.

Os dados mais recentes – de 2013 – também disponíveis no Observatório, a partir da Pesquisa Nacional de Saúde, apontam o percentual total de adultos fumantes em 14,7%. Considerando o período de 1989 a 2010, a queda do percentual de fumantes no Brasil foi de 46%, como consequência das políticas de controle do tabagismo implantadas no país.

O decréscimo no número de fumantes também foi constatado através do monitoramento anual por telefone, através da pesquisa Vigitel, realizada nas 26 capitais brasileiras e Distrito Federal com adultos maiores de 18 anos e que residam em local com linha de telefone fixo. Segundo dados de 2014, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 10,8%, sendo 12,8 % entre homens e 9 % entre mulheres.

O Paraná foi um dos Estados pioneiros não apenas da formulação de uma lei antifumo, mas na criação de programas de combate ao tabagismo. O programa estadual de controle ao tabagismo foi lançado ainda em 1979, no governo Ney Braga, e serviu de base para a criação do programa nacional. Devemos a médicos como o então secretário de Saúde, Oscar Alves e a Jaime Zlotnik, que foi coordenador do programa, o reconhecimento pelo pioneirismo na formulação de políticas públicas de combate ao tabagismo.

Na terça-feira, dia 29, no mesmo dia em que comemoramos os seis anos da lei antifumo no Estado, o pneumologista Jonatas Reichert lançou o livro ‘35 Anos de História da Luta Contra o Tabagismo no Paraná’, num trabalho que documenta e resgata a luta contra o consumo de cigarros no Paraná.

Avançamos muito, o Brasil hoje é referência mundial em programas de combate ao tabagismo, mas ainda há um longo caminho a percorrer, especialmente em relação ao fortalecimento das ações de combate ao mercado ilegal de cigarros, como o contrabando, a fabricação ilícita e a falsificação de cigarros.

Atualmente, segundo o Observatório Nacional de Controle do Tabaco, usando informações do Sinditabaco, a estimativa de consumo de cigarros do mercado ilegal está em torno de 27%.

Tramita na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 6126/09, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que criminaliza a falsificação, a adulteração ou a fabricação de cigarros, cigarrilhas e charutos fora das regras sanitárias. O projeto altera o Código Penal, na parte que trata de crimes contra a saúde pública. A legislação atual criminaliza a adulteração de produtos destinados a consumo ou a prestação de informações falsas sobre alimentos, produtos terapêuticos e medicamentos, mas não menciona os cigarros.

É um projeto que precisa ser aprovado. Se o cigarro fabricado de acordo com as normas, já é extremamente danoso à saúde, o que dizer então de produtos falsificados e adulterados?

Também considero necessário intensificar os esforços para incentivar os agricultores a substituírem a cultura do fumo em suas propriedades, conforme a lei que criamos e aprovamos há seis anos. Todos sabem: a produção de tabaco é altamente danosa ao meio ambiente e, especialmente, à saúde dos agricultores, pela exposição crônica à nicotina e aos agrotóxicos.

Se isso não bastasse, a fumicultura é uma das culturas que mais utiliza mão de obra infantil e apesar dos esforços do Ministério Público do Trabalho e de entidades da sociedade civil, estamos longe de resolver esse grave problema.

Há menos de uma década, fumar em ambiente público fechado era um hábito considerado “normal” e os incomodados que se retirassem. Hoje, a realidade é outra – os incomodados venceram. Por isso, é preciso acreditar e lutar para aprimorar a legislação, combater o consumo de tabaco entre os jovens e diminuir o plantio de fumo no Estado.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PMDB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná.